sábado, 1 de dezembro de 2012

Vc já passou por uma violência obstétrica?


Hoje vou fazer uma retrospectiva da minha vida, vou voltar no tempo pra pensar no que realmente é o correto se fazer ao trazer um filho ao mundo...

Hoje após 13 anos de introspecção e amadurecimento de tudo o que aconteceu e com todas as informações que hoje eu tenho pude digerir e conseguir contar na íntegra como foi que eu pari a minha filha pela primeira vez.

Muitas pessoas me perguntam o porque eu resolvi ter o meu segundo filho de parto natural humanizado e muitas me olham atravessado por eu dizer a minha escolha e a maioria diz mas porque vc quer sentir dor? Mas o que muitos não sabem é que por trás da escolha de cada mulher existe algo que justifica e pra mim a dor do parto não é nada mais do que um momento de renovação da própria vida. É o surgimento da vida e mais ainda é a extensão da minha própria vida!

O mais importante e é o que realmente deve ser levado em consideração neste sublime momento do nascer é que ele precisa ser feito com amor, paciência, respeito e acima de tudo carinho com a gestante e o bebê. Infelizmente no meu primeiro parto, apesar de ter sido normal,  não foi feito com carinho...

Gestar, o que significa isso na vida de uma mulher que em breve irá desempenhar um dos papeis mais importantes na vida de um ser humano, o de ser mãe?

Quando eu fiquei grávida de minha filha mais velha eu tinha apenas 17 anos e nada sabia a respeito deste fenômeno tão natural e muitos pensam que nada devemos saber, somente ir sendo levadas pela maré, mas informação é tudo, tudo mesmo...

Eu sempre tive um sonho em ser mãe desde que me entendo como gente, toda menina, já brincou de mãe e filha não é mesmo? Isso é natural de qualquer mulher e a maioria delas preserva este sentimento para toda a existência.

Eu fazia o 3o. ano colegial, fazia ballet clássico, como a minha mãe dizia tinha um futuro brilhante, mas como assim tinha? Não eu ainda tenho um futuro mais do que brilhante, mas naquela época eu entendo bem o porquê daquelas colocações, como eu disse tinha 17 anos e não era muito comum uma adolescente aparecer grávida, mas aconteceu e pra mim o aborto é algo que eu não posso conceber a possibilidade de fazer e eu amei o pequeno ser desde o momento em que soube da sua existência.

Foi uma gestação dificil, sangramentos frequentes sem explicação, isso porque no ultrasom nada mostrava, placenta no lugar correto, sem apresentação de descolamento, pressão normal, exames com resultados maravilhosos e nada de diabetes gestacional, enfim nada justificava, porém bastava eu ser contrariada que o sangue descia.

O médico que eu escolhi, pensei ser muito bom que algumas amigas me indicaram, não me deu as informações que eu precisava e em nenhum momento disse que existia a possibilidade de um parto prematuro, penso que naquele momento eu meio que não percebi que estava vivendo uma realidade, não procurei saber o que estava acontecendo com o meu bebê, na verdade eu achava que estava tudo normal, sempre ia sozinha as consultas, não tinha ninguém que pudesse interceder por mim naquele momento e dizer: "Peraí tem alguma coisa errada aqui vamos averiguar, vamos procurar outro médico", enfim, foi do jeito que tinha que ser.

Um belo dia, eu saí de casa para fazer algumas compras do enxoval e quando desci do ônibus senti uma água descendo e pensei: "Meu Deus fiz xixi nas calças!" e fui para casa, chegando lá estava animada com as roupinhas novas e fui mostrar para a minha irmã Sandra, não sei se por conta da memória das grávidas que é um tanto esquecida, eu simplesmente não lembrei do acontecido, nem as calças molhadas me fizeram lembrar, como pode eu ser tão desligada a este ponto, hoje me pego lembrando e até acho engraçado, ai ai...

Após mostrar as minhas compras me deu vontade de fazer xixi e quando baixei as calças e vi o molhado, lembrei do ocorrido, cheirei e vi que não tinha cheiro de urina então decidi mostrar para a minha mãe que logo ficou apavorada sem me dizer que era a bolsa que havia rompido e me mandou tomar banho, ligou para a médica dela que me mandou urgente para o hospital, afinal eu estava com apenas 27 semanas de gestação.

Um detalhe eu até tinha assistência médica, porém pela minha idade não cobria parto, a minha mãe jamais imaginaria que eu ficaria grávida com aquela idade e fui para o hospital Roberto Santos que na época era o melhor em UTI Neonatal, apesar de ter tido uma infecção hospitalar que matou 90% dos bebês um mês antes, eu não tinha muita opção.

Cheguei no hospital, a primeira coisa que fizeram foi um exame de toque e eu que nunca tinha passado por aquilo fiz o maior escândalo, tiveram que segurar as minhas mãos para conseguir o tal exame e nada de dilatação, me colocaram numa maca e logo fizeram os primeiros procedimentos para a internação, colocaram o soro, fizeram a tricotomia e mandaram a minha mãe ir embora. Isso se configura nos primeiros sinais de violência obstétrica, mas naquela época eu nem sabia que isso existia...

Fui internada, fiquei 6 dias em um soro sem necessidade, me deram Diazepam para dormir pq na primeira noite eu fiquei perambulando nos corredores atrás de uma enfermeira para retirar o soro que tinha terminado.

Durante os dias que antecederam o parto em si eu até fui bem tratada a maioria das enfermeiras e médicos bem atenciosos, eles queriam segurar a gestação até pelo menos o oitavo mês, mas 5 dias após a minha internação eu entrei em trabalho de parto.

Na noite do dia 04 de setembro de 1999 eu senti umas cólicas bem fraquinhas e nem pensei que seriam as dores do parto, dormi a noite inteira, no dia seguinte às 6h da manhã os médicos foram me examinar e eu nem lembrava da dor sentida no dia anterior disse que estava tudo bem, mais ou menos às 10h da manhã eu começei a sentir umas dores mais fortes e nem conseguia levantar direito da cama, a pessoa que dividia o quarto comigo tentou chamar algum médico e a resposta dele foi algo que jamais iria imaginar escutar em momento de tamanha importância na vida de uma mulher : "Esse povo que quando agente vai examinar diz que está bem e depois que vou embora fala que está sentido dor! Diz pra ela que não vou agora não!" e eu esperei pacientemente até o meio dia, quando respirei fundo, levantei da cama do hospital e fui até o orelhão mais próximo ao final do corredor, liguei para um grande amigo da minha mãe na época e que foi quem me deu um dos maiores apoios durante a minha gestação o sr. Gustavo Molina e em torno de 30 minutos uma enfermeira estava no meu quarto acompanhada por ele com uma cadeira de rodas pra levar a sala de pré-parto.


Me levaram para a tal sala que mais parecia uma sala de tortura do que uma sala que se prepara para o parto, primeiro pq fiquei sem comer durante todo o processo, neste momento já eram quase uma hora da tarde e eu estava com o café da manhã na barriga. Ao meu lado tinha uma mulher abortando uma criança e a enfermeira a todo momento ia lá fazer pressão na mulher pra ela assumir que tomou remédio pra perder e que se ela não contasse ia deixar ela morrer lá. É muito dificil de lembrar...

As dores iam ficando cada vez mais fortes e em um momento ela aumentou muito e eu que nem estava gritando começei a fazê-lo e a chamar a médica que não aparecia. Depois de muito chamar ela veio com uma cara que parecia estar no décimo terceiro sono e perguntou: "O que é que vc quer?" Eu respondi: "As dores aumentaram..." ela disse: "Eu nem podia fazer exame de toque mas vou fazer!" Lembrando que ela sempre falava gritando. E quando ela levantou o roupão disse: "Tá coroando, leva, leva, leva" e eu com todo cuidado por estar com a cabecinha da minha filha entre as pernas fui me deitando na maca quando a enfermeira disse: "vai logo minha filha, vc quer que nasça aqui é?"

Cheguei na sala de parto e a médica já veio com um bisturi sem nem me perguntar e já fez logo a episiotomia, agora me diga, qual a necessidade que se fazer um corte na musculatura para uma criança que tinha apenas 950g e 37 centímetros? Com certeza ela não iria lacerar nada.

Com uma força a minha filha nasceu, foi super rápido, o chorinho dela foi tão baixinho que quase não se percebeu e a efermeira disse: "dra. não vai mostrar a nenem pra mãe?" e a médica super compreensiva (pra não dizer ao contrário) disse: "Vc não está vendo que ela está morrendo?" e levaram a minha filha sem nem eu conhecer o rostinho dela, o meu bebê que ficou no meu ventre por 7 meses e só fui conseguir ver no dia seguinte e um detalhe é que eu teria que esperar dar o horário de visita pra conseguir conhecer a minha própria filha e o que eu só conseguia fazer era chorar, um choro de saudade, de querer tocá-la, de estar sozinha em um momento onde eu deveria estar rodeada de amigos me dando apoio e eu ficava ali parada naquela porta esperando ansiosamente ela abrir, até que uma prima minha a dra. Angela, pediatra chegou, ela era plantonista daquela UTI e me autorizou entrar antes do horário estipulado.

E vcs pensam que a violência obstétrica acabou por aí?

No fim da manhã estava marcado para eu me encontrar com a neonatologista que acompanhou o parto e no prógnostico dela foi bem clara: "A sua filha só tem 30% de chance de sobreviver e se vc tiver dinheiro retire ela deste hospital pq aqui não existe condições pra ela de recuperar, leve ela para um hospital particular." Naquele momento o meu mundo caiu e não conseguia pensar em nada a não ser em dar um jeito de levá-la para um hospital particular, recebi alta e em casa tivemos uma reunião com os familiares, a minha mãe resolveu vender o carro dela e o meu pai o dele para pagar o tratamento da Catarina e a primeira coisa que fiz foi entrar em contato com os hospitais de salvador para conseguir a transferência e para a minha surpresa (ou não) todas as vezes que eu falava em qual hospital ela estava internada eles diziam que não tinha vaga, ou seja eu tive que me conformar em deixar a minha pequena naquele lugar.

E eu só chorava....

Até que Deus resolveu dar uma trégua ao meu sofrimento e a médica que estava cuidando dela entrou de férias entrando no lugar a minha prima Angela, a qual devo toda a recuperação da minha filha, ela sim me deu toda a atenção devida, me deu esperanças e enquanto a minha filha esteve internada nenhum dos bebês morreram, foi 1 mês e meio e ela saiu do hospital com 1k e 500g. O normal seria ela sair com 2k, mas como a pediatra conhecia a casa onde eu morava e o ambiente sabia que ela seria bem cuidada com toda higiene necessária.

Ela tem 13anos, é forte, sadia, esperta, não teve sequelas do parto prematuro.

E hoje eu não posso me permitir passar novamente por uma situação de castração dos meus próprios instintos femininos e humanos, hoje eu não vou permitir ser tirada do meu direito de parir com dignidade como se eu fosse um animal irracional. Por isso mulheres estudem muito, pesquisem, se prepare e não deixem que uma pessoa que se diz médico só porque estudou anos em uma faculdade lhe diga o que vc deve fazer no seu momento único, se um médico não te apoia na sua decisão procure outro, são poucos eu sei, mas um com certeza vai te ouvir com os ouvidos do coração.






Aí está ela quando foi pra casa.



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O que é Parto Humanizado ?

Por Eleonora de Moraes

Uma importante questão a ser esclarecida é que o termo "Parto humanizado" não pode ser entendido como um "tipo de parto", onde alguns detalhes externos o definem como tal, como o uso da água ou a posição, a intensidade da luz, a presença do acompanhante ou qualquer outra variável. A Humanização do parto é um processo e não um produto que nos é entregue pronto.

Acredito que estamos a caminho de tornar cada vez mais humano este processo, isto é, tornar cada vez mais consciente a importância de um processo que para a humanidade sempre foi instintivo e natural e que por algumas décadas tentamos interfirir mecanicamente, ao hospitalizarmos o nascimento e querer enquadrar e mecanizar em um formato único as mulheres e o evento parto.

O termo “humanização” carrega em si interpretações diversas. A qualidade de “humano” em nossa cultura quase sempre se refere à idéia arraigada na moral cristã de ser bom, dócil, empático, amável e de ajudar o próximo. Nesse contexto, retirar a mulher de seu “sofrimento” e “acelerar” o parto através de medicações e de manobras técnicas ou cirúrgicas e é uma tarefa nobre da medicina obstétrica e assim vem sendo cumprida.

Mas há um porém neste tipo de intervenção. Um olhar mais atento na prática atual da assistência ao parto revela uma enorme contradição entre as intervenções técnicas ou cirúrgicas e as suas conseqüências no processo fisiológico do parto e na saúde física e emocional da mãe e do bebê. Um olhar ainda mais atento nos processos culturais, emocionais, psíquicos e espirituais envolvidos no parto revelam novos e norteadores horizontes, tal qual a importância, para mãe e filho, de vivenciar integralmente a experiência do parto natural.

A qualidade de humano que se quer aqui revelar envolve os processos inerentes ao ser humano, os processos pertinentes ao ciclo vital e a gama de sentimentos e transformações que a acompanham. O processo de nascimento, as passagens para a vida adolescente e adulta, a vivência da gravidez, do parto, da maternidade, da dor, da morte e da separação são experiências que inevitavelmente acompanham a existência humana e por isso devem ser consideradas e respeitadas no desenrolar de um evento natural e completo como é o parto. Muitas e muitas mulheres ao relatarem seus partos via cesariana mostram a frustração de não terem parido naturalmente, com as próprias forças, os seus filhos. Querem e precisam vivenciar o nascimento de seus filhos de forma ativa, participativa, inteira. Viver os processos naturais e humanos por inteiro muitas vezes envolve dor, incômodo, conflito, medo. Mas são estes mesmo os “portais” para a transição, para o crescimento, para o desenvolvimento e amadurecimento humano.

A humanização proposta pela ‘humanização do parto’ entende a gestação e o parto como eventos fisiológicos perfeitos (onde apenas 15 a 20% das gestantes apresentam adoecimento neste período necessitando cuidados especiais), cabendo a obstetrícia apenas acompanhar o processo e não interferir buscando ‘aperfeiçoá-lo’.

Humanizar é acreditar na fisiologia da gestação e do parto.
Humanizar é respeitar esta fisiologia, e apenas acompanhá-la.
Humanizar é perceber, refletir e respeitar os diversos aspectos culturais, individuais, psíquicos e emocionais da mulher e de sua família.
Humanizar é devolver o protagonismo do parto à mulher.
É garantir-lhe o direito de conhecimento e escolha.

Vamos pensar?

Quando uma mulher está grávida, muitas coisas passam na sua cabeça e uma delas é como será o parto. Pensando no mundo de hoje em como anda a tecnologia e como os médicos tem a capacidade de enganar mulheres usando desta desculpa ou de outras me entristece tanto... Penso em tantas mulheres que tiveram os seus sonhos interrompidos por conta de uma cesariana desnecessária. Já houvi de muitas mulheres dizendo que eu sou doida em querer ter um filho de parto normal e que isso é retroceder ou algo muito primitivo e que a tecnologia está no mundo para atuar ao nosso favor, até concordo com a ultima afirmação, não sou contra a cesária, apesar de ter medo dela, eu penso que esta tecnologia existe para salvar vidas e não como um comodismo para os médicos pq marcar uma data e horário é mais fácil do que ficar horas esperando o momento mágico acontecer e com isso milhares de mulheres são enganadas e tiradas do seu direito único e exclusivo de parir. Sempre é muito importante estudar, conhecer, ler e ter outras opiniões médicas antes de aceitar um dizer que o seu filho corre risco se vier de parto normal. Lembrem-se a mulher nasceu com este dom, ela tem a força necessária para isso e é a melhor forma de uma criança vir ao mundo, é melhor para mãe e é melhor para o bebê.
Eu sei o quanto isso faz bem para o bebê e fortifica a mãe em todos os sentidos. É um momento único que somente a mulher tem o direito de passar. Sou realmente uma defensora do parto normal (rs) e mais ainda, do parto natural humanizado, quando a muler tem a oportunidade de conhecer mais o assunto percebe que não há pq temer, muito pelo contrário. A taxa de mortalidade de bebês e mães com a cesariana desnecessária é muito maior do que com o parto normal e o parto natural humanizado consegue ser com muito menos dor mesmo sem a utilização de drogas anestesicas pq existe a prévia preparação da mãe, só a forma diferenciada de respirar já auxilia na minimização da dor. Vamos pensar mais nisso?